terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

SOBRE 2 E 4 RODAS por PIPE ROMÃO

Desde que foi inventada sabe-se lá quando ou por quem, a roda acompanha o homem e há quem diga que é a sua maior invenção. Nos tempos atuais sua principal função é auxiliá-lo em seus deslocamentos.

Nosso primeiro meio de transporte é o carrinho de bebê, geralmente tem quatro rodas e somos apenas passageiros, não podemos emitir nenhuma opinião sobre itinerários, buracos na pista, incidência de sol, enfim, temos que ficar quietos agüentando os comentários feitos pelos adultos acerca de nossa aparência. O pior é quando apertam nossas bochechas. Após algum tempo, algumas crianças fazem um estágio nos velocípedes, com três rodas, ou carrinhos que pretendem ser miniaturas dos carros do pai.

A próxima fase, já com duas rodas, é a da bicicleta; a magrela é a primeira a nos propiciar uma grande sensação de liberdade e autonomia; nos leva a qualquer lugar, a qualquer hora . Após a bicicleta vem a fase do automóvel, com quatro rodas, que nos acompanhará por muito tempo. Algumas pessoas ainda terão mais um meio de transporte, de quatro rodas, geralmente empurrado por uma pessoa vestida de branco, no qual voltam a ser passageiros. Ah! Ia me esquecendo de um veículo intermediário entre a bicicleta e o automóvel: as motos. Embora existam há muito tempo, só se popularizaram após os anos 1970 . Antes delas havia a Lambreta, sobre a qual falarei hoje.

Estávamos na segunda metade da década de 1960 e sob o patrocínio do Rotary Club aconteceria no Aero Clube uma Festa da Cerveja, até então uma grande novidade sobre a qual se faziam grandes especulações. Seria um baile animado por uma orquestra que só tocava música alemã. A única música alemã que conhecíamos era valsa; valsa com cerveja?! Era tudo muito estranho. Ao comprar o ingresso se levava uma caneca com capacidade de mais de meio litro e na festa não precisava pagar mais nada, era só entrar na fila e abastecer a caneca, quantas vezes quisesse. Pagamos para ver, fomos à festa e a surpresa foi muito grande: a música alemã era mais animada que as marchinhas carnavalescas e para reabastecer a caneca, era só entrar na fila, como anunciado. Tudo correu na mais absoluta paz e civilidade. A festa foi ótima e no horário marcado, quatro da madrugada terminou.

Eu morava na General Galvão, no sobrado que fica na esquina com Marechal Bittencourt. No térreo funcionava um restaurante e o Eduardo Cesarino Brandão, o Edu, morava na mesma rua, próximo à Tenente Lopes. Terminada a festa, não sei porque não fomos para casa. Subimos até o Jahu Clube e lá chegando encontramos o Frederico Loureiro, o Dico, tentando convencer um garçom do clube a deixar sua Lambreta ali e apanhá-la no dia seguinte. O garçom não tinha ido à festa da cerveja, mas estava em condições piores do que os que tinham ido e não queria nem pensar na hipótese de deixar a Lambretta ali. Imediatamente eu e o Edu nos oferecemos para levar a Lambreta para a casa do garçom. Dico iria com o garçom pela calçada e nós levaríamos a máquina pela rua. Apoiamo-nos um de cada lado e fomos empurrando-a. Ao chegarmos à Rua Sete de Setembro a Lambreta estava pesando uns quinhentos quilos e já não estávamos mais conseguindo empurrá-la. Foi quando resolvemos montar, ligar a chave, fazê-la funcionar e sumir naquele fim de noite jauense.

O passeio foi bastante longo, nos revezando na condução da Lambreta. Passamos pelos colégios São Norberto e São José, pela Avenida do Café fomos até a igreja de São Judas, retornamos pela Potunduva subimos até a Avenida Frederico Ozanam, indo até o cemitério. Voltamos pela avenida e fomos até a estação da Paulista, no final da Avenida Brasil, quando achamos que já era hora de encerrarmos o passeio. Neste momento era o Edu quem dirigia a Lambretta e a volta foi pela Joaquim Gomes dos Reis. Ao passarmos pela antiga Cooperativa de Leite, a Lambreta tentou nos derrubar, o Edu conseguiu se segurar. Mas eu já não tive a mesma sorte e como ele não percebeu que eu havia ficado no chão, foi embora. Quando cheguei em casa a pé, no restaurante havia algumas pessoas que me disseram que uma Lambretta havia parado ali e que o condutor insistia para que alguém descesse. Ao notar que não havia ninguém na garupa foi embora.

Entrei em casa e fui dormir. Logo de manhã, o Edu me telefonou perguntando onde havíamos estacionado a Lambreta, pois o garçom precisava dela. Ele não se lembrava de jeito nenhum onde a havia deixado. No final da tarde daquele domingo fiquei sabendo que o Edu havia levado a Lambreta até a porta do Jahu Clube e a deixado lá, no mesmo lugar onde havíamos iniciado nossa aventura.

Esta é a versão mais próxima da verdade, de uma história contada e recontada, que marcou presença em nossa juventude e que até hoje é lembrada pelos meus amigos.

Euripedes Martins Romão é economista.
http://piperomao.multiply.com/journal
pipe.romao@terra.com.br

Nenhum comentário: