segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CORRIDA DE LAMBRETTA, POR GUSTAVO DELACORTE


Tempos atrás, pigou na minha caixa de e-mail um pedido de informações sobre as corridas de Lambretta. Era o Gustavo Delacorte, estudante de jornalismo de Santos, que precisava fazer uma matéria para um trabalho da faculdade. E para minha supresa ele queria falar sobre as corridas de Lambretta. Na minha opinião acertou em cheio, até porque em Santos, quem nós temos? Grande Chicão. Figurinha carimbada aqui no blog. Eu daria um 10 fácil! Abaixo segue na íntegra do texto do Gsutavo, que foi pessoalmente conversar com o Chicão:

Lambrettas correndo pelas ruas, a poucos centímetros do público, extasiado pelas pequenas e endiabradas máquinas, rasgando o asfalto a cerca de 130 km/h. O cenário pode parecer distante da realidade paulista e digno de um filme europeu, mas já foi realidade nas ruas e nos canais de Santos entre as décadas de 1970 e 1980.

O comerciante Francisco Velasco experimentou a sensação da velocidade sobre duas rodas pela primeira vez em 1962. Tinha 17 anos e trabalhava em uma oficina mecânica há apenas alguns meses. Poucos, mas suficientes para despertar nele uma paixão que dura até hoje. Com o dinheiro que ganhava trabalhando na oficina, Velasco adquiriu sua primeira lambretta. “Parcelei. Pagava 10 mil por mês, com o dinheiro que eu ganhava na oficina. Aprendi tudo sobre motores com apenas seis meses de trabalho”, conta.

E foi com ela que tudo começou. Inspirado nas corridas de bicicleta promovidas por seu pai, Velasco alinhou sua motoneta com outras 85 no grid do autódromo José Carlos Pace, imortalizado pela Fórmula 1 como “Interlagos”, para a disputa de uma prova que teve seis horas de duração.

“Havia 86 lambrettas na pista. Durante a corrida, tive que parar nos boxes por um problema mecânico. Demorei para voltar, pois precisei encontrar o defeito e arrumá-lo. Sabe em que colocação fiquei? Trigésimo oitavo”, conta. “Mas fiquei mal depois da prova. Foram seis horas, sem troca de pilotos. Não conseguia abrir as minhas mãos na hora de descer da moto. Para soltar dos manetes, tive que tirar as mãos como se ainda estivesse os segurando”, completa, simulando o drama vivido.

Velasco correria novamente em Interlagos, inclusive com motocicletas maiores em tamanho e potência. Mas, antes, teria disputas, digamos, bem mais emocionantes, pelas ruas de diversas cidades do interior de São Paulo, entre elas Santos.

“Foi daí que começou. Corri em Rio Claro. Peguei o quarto lugar, se não me engano. Depois, mudei para Assis. As corridas eram sempre na rua. Minha primeira corrida foi em Rio Claro, mas em Assis tinham muitas também”.

O apoio para correr em cidades diferentes vinha das prefeituras e de amigos que também corriam. “Geralmente, um caminhão da prefeitura levava das motos. Em Assis, por exemplo, a levavam para Presidente Prudente quando havia corridas lá”.

“Na Baixada Santista, corri umas 20 vezes. Teve no Casqueiro, em Cubatão. Passava pela Avenida 9 de Abril. Em Vicente de Carvalho também teve. Em Santos, foram muitas. Embora tenha vindo morar aqui em 1968, só passei a fazer parte da organização mais ou menos em 1980”, diz.

Na primeira vez em que veio correr em Santos, Velasco morava em São Paulo. “Um amigo trouxe minha lambretta para Santos em seu caminhão. Nós (os corredores) tínhamos muitas dificuldades para tudo. Lembro de ter corrido no canal quatro, pois me lembro de passar por ele durante a corrida. Também houve no canal sete. O trajeto passava pela casa do Pelé (hoje, no lugar, há um prédio), pela praça onde fica o Rebouças. Também teve corrida na Vila Belmiro”.

As provas eram organizadas pelo Santos Moto Clube, que Velasco chegou, inclusive, a presidir quando passou a se envolver com a coordenação das provas na região. “O Santos Moto Clube organizava as provas, pois era filiado da Federação Paulista de Motociclismo, e corria atrás de tudo, troféus, e patrocínio, quando dava. Era bem organizado. Tinha que mandar um ofício para a secretaria de esportes. Tinha que ter policiamento e ambulâncias, se não a prefeitura não autorizava”.

Não existia patrocínio fixo ou prêmios em dinheiro para os vencedores. Apenas a paixão pela velocidade e pelas lambrettas os movia. “O que dá dinheiro é a Fórmula 1. Nós corríamos apenas pela paixão”, diz Velasco. O público prestigiava bem as provas na Baixada Santista, mas as corridas ferviam mesmo nas cidades do interior de São Paulo, onde verdadeiras multidões compareciam nos locais marcados para acompanhar as corridas.

“No interior era bem mais forte. Em Presidente Prudente, havia um ‘troféu transitório’, como na Copa do Mundo. Quem ganhava duas vezes seguidas levava. E eu o ganhei”, revela.

O veterano das duas rodas conta ainda que, em uma corrida disputada em São Paulo, recebeu o troféu das mãos do então governador da Capital. Uma vez, corri na Vila Maria, em São Paulo. Sabe quem foi entregar? O Carvalho Pinto, governador na época. Não lembro o ano exato, 65, 67, por aí”.

Rivalidade

As disputas ácidas pelas ruas geravam certa rivalidade entre as cidades. Certa vez, Velasco foi alvo dessa rivalidade, quando uma torcedora resolveu lhe acertar “casacadas” toda vez que passava por ela na pista, em uma corrida no interior. “A cada volta que eu passava, levava uma casacada. Eu nem conhecia a mulher, aí quando fui ver no fim da corrida, a minha esposa na época estava se atracando com ela. Passei uma vergonha naquele dia”, conta, aos risos. “A rivalidade existia, mas nada comparada com a dos estádios de futebol, tanto que tenho medo de ir em jogos”, completa.

Motoball

Outro esporte de rua curioso, pouco conhecido na história da cidade, foi o motoball. Consistia em uma partida de futebol em que os jogadores atuavam em cima de lambrettas, e jogavam com uma cerca de três vezes maior que a normalmente usada nos gramados.

“O motoball em Santos nasceu de uma iniciativa minha, junto a um amigo. Os times eram formados de colegas nossos. Teve umas oito vezes na cidade, por aí...”. Devido à falta de interesse, Velasco não promoveu mais o esporte. “Acabou pelas dificuldades. Até porque a lambretta ficou cada vez mais rara. Se fosse pra fazer algo parecido hoje, teria que ser com uma moto atual. Naquela época tinha lambretta pra caramba, mas ninguém se interessava, então fiquei desiludido. As motos eram minhas. Depois do jogo, tinha que fazer manutenção, limpar, mas ninguém ajudava. Só queriam sentar e brincar, aí complica”, lamenta.

Hoje, Velasco é dono de uma adega e divide seu tempo com trabalho, mulher e filhos. Mas ainda arruma intervalos para se dedicar às lambrettas. Ele possui uma do ano 1950, recentemente restaurada.

“Hoje eu me entreguei à bebida, pois montei uma adega”, brinca. “Mas eu amo o motociclismo, não tem jeito. Tenho pouco tempo para minha lambretta, mas trato ela com muito carinho. Meu filho, quando era menor, me perguntava ‘por que você quer essa porcaria?’. Hoje ele vive me perguntando quando vai poder andar nela”, diz Chicão, que também correu na categoria Sport, e de MotoCross.

7 comentários:

Scooteria Paulista disse...

excelente resgate historico. parabens total!! realmente em assis aconteceram algumas corridas de motoball, q ate hoje se comenta por lá. tenho familia em assis. e um tio - o donizette, q citei no blog, foto com sidecar -, ele chegou a frequentar a roda. pretendo trazer mais material de la na proxima visita ao velho oeste. mas é isso aí anderson. parabens pelo site e pelo empenho. um grande abraço.

marcio fidelis

Gustavo disse...

Valeu, Anderson!

Só consigo ver o site por cache... essa NET é bizarra, vou ter que ligar e reclamar.

Abraços!

Leonardo Dueñas disse...

Parabéns ao Anderson pela divulgação e ao Gustavo pela autoria. A Lambretta é parte da cultura motociclística de nosso país e se não houver quem pesquise e publique, corre o risco de cair no esquecimento, ignorada pelas novas gerações.

Abraço,
Leo

Unknown disse...

Adorei a matéria, nossa, tem coisa que eu nem sabia sobre meu pai...esse trofeu entregue pelo governador de São Paulo na época foi novidade pra mim...Parabens a todos...

Daniella

arthur disse...

legal..muito bom..meu pai foi piloto dessa epoca ,mas nao tenho nada dele...derepente vcs sabem ,ou tem alguma coisa sobre ele..era mecanico da epoca..Ramiro Carlos Teixeira...se tiverem algo ficarei muito grato...meu nome e alexandre..email artmotos1@hotmail.com...desde ja agradeço..e parabens pelas postagens...sao as referencias pra rapaziada amantes das motos...verdadeiros herois...

Magno disse...

Muito boa matéria, sou de Santos-SP e morei até 75, onde tive oportunidade de assistir as corridas de lambretas no canal 7, em frente a casa do Pelé, e também, corridas de mini buggys em forma de fórmula 1, nas proximidades da av. dos bancários. Gostaria de saber, se existe fotos destas competições e que eu pudesse colocar no facebook, para o pessoal matar a saudade.
Abçs.

j.aguiar disse...

Muito bom lembrar desta época em Santos , a turma do canal 3 .
alguns pilotos , Chaparral, Genoveva , Linguiça , Polenta , Peixinho , e também meus amigos Edgar e Vital que tinham uma oficina na João Alfredo , corria com uma LD e depois com uma Italjet em Interlagos.